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Igreja Católica e fiéis tentam se adaptar às limitações impostas pela pandemia

14/10/2020
Matéria produzida por Felipe Dário, Isabelle Marie, Vitor Correia, Vitória Andrade e Viviane Viana, alunos e alunas do curso de Jornalismo da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG – Divinópolis) em disciplina ministrada pelo professor  dr. Marco Túlio de Sousa 

Com a pandemia do novo coronavírus, muitas pessoas têm buscado conforto na fé. Em função das medidas de distanciamento social, os fiéis tentam manter contato com seus familiares, amigos e, principalmente, com a própria crença através da internet. A religião acaba sendo um recurso importante para as famílias, podendo contribuir no enfrentamento aos desafios, na adaptação para viver e socializar nesse período e também no alívio das perdas.

Diversas atividades, incluindo práticas religiosas rotineiras, como missas, terços, encontros e eventos importantes, precisaram ser suspensas. A coordenadora da Comunidade Santa Rita de Cássia em Divinópolis (MG), Simone Santiago, 43, considera que os efeitos da pandemia no meio religioso foram graves, desde o impacto direto sobre os ritos, até questões financeiras. “A pandemia impossibilitou a realização de várias atividades paroquiais e ainda diminuiu a arrecadação de coletas e dízimos”, conta.

Ela ainda completa que não vê a hora da situação ser controlada e tudo voltar ao normal. “Não me adaptei bem e nem as outras pessoas. Há um desconforto em usar a máscara e não podemos nos abraçar, como tínhamos costume”, destaca.

Um novo olhar sobre as tradições

A “Festa de São Caetano” é celebrada todos os anos durante os meses de julho e agosto, na cidade de Brazópolis (MG), em louvor ao aniversário do padroeiro do município. Dentre as celebrações que neste ano não puderam ser realizadas, incluem-se as novenas e quermesses.

O pároco, Padre Elton Cândido Ribeiro, 38, falou sobre as dificuldades enfrentadas pela paróquia neste período, além de enfatizar as estratégias adotadas para tentar realizar os encontros, mesmo com a necessidade do isolamento e distanciamento social: “Ajudar as pessoas a compreenderem estas restrições como uma forma de exercício de responsabilidade em relação à sua própria vida e sua saúde, tem sido a parte mais difícil”, comenta.

Entre as medidas que a paróquia adotou, o padre explica que a principal alternativa foi continuar realizando as atividades de forma online, transmitidas pelas redes sociais da própria igreja no Youtube e Facebook. “Além disso, procuramos chegar até as pessoas de outras formas, como, por exemplo, carros de som percorrendo o município com mensagens e orações, e contato telefônico. Houve também atendimento de confissões em casos de necessidade, com hora agendada e ambiente seguro; visita a enfermos em situação grave, presencialmente ou de forma online; assistência às famílias necessitadas com distribuição de cestas básicas, cobertores e remédios”, salienta.

No que se refere aos cuidados com a volta das missas presenciais, Dom José Luiz Majella, arcebispo de Pouso Alegre, arquidiocese da qual a paróquia faz parte, criou em julho, uma comissão interdisciplinar específica para as igrejas. Entre as exigências estão: uso do templo com, no máximo, 20% da sua lotação; higienização dos ambientes em sua totalidade antes e depois das celebrações; distanciamento mínimo de dois metros entre os participantes do culto; uso de máscaras e higienização das mãos; dentre outras.

Transmissões ressignificam a relação com fiéis

Transmissão de missa em paróquia de Bom Despacho (MG)

A transmissão das celebrações envolve adaptações e causa, até mesmo, estranheza. É o que diz Rafael Magno, 28, membro da equipe técnica da Paróquia São Vicente de Paulo, em Bom Despacho (MG). Ele, que está à frente das lives, afirma nunca ter passado por uma situação parecida e que foi preciso pensar na maneira mais fácil de levar o evangelho até as pessoas.  “Como ainda existem muitos leigos em relação à tecnologia, percebemos a dificuldade das pessoas para conseguirem acessar as transmissões. Porém, com a prática e também, paciência, alcançamos um bom número de fiéis”, relata.

Segundo o colaborador, no início os operadores usavam os próprios contatos dos fiéis com o pároco, foi uma das questões levantadas pelo entrevistado. “Percebi a falta que o padre faz na vida dos nossos irmãos quando, no domingo de Páscoa, saímos às ruas com o Santíssimo e passamos por algumas pessoas que falavam: “Estou sentindo saudades do senhor”, comenta Rafael. Hoje, o membro da equipe técnica afirma que as lives são novas ferramentas do apostolado e não apenas um recurso específico para o período vivenciado.

Como se conectar com o sagrado neste período de isolamento social?

Fiel assiste a uma live de adoração.

Antes da pandemia, alguns fiéis já acompanhavam as celebrações à distância, como é o caso da analista de sistema, Luciana Oliveira, 40, natural de Contagem (MG). A fiel que sempre acompanhou as missas pela TV Canção Nova e Rede Vida percebeu um aumento na frequência das transmissões. “Isso de transmitir é bom para idosos e pessoas doentes que não podem ir às missas presenciais sempre e também, para quem tem uma rotina corrida. Hoje, em qualquer horário que liga tem um terço, adoração ou algo que só aconteceria presencialmente”, completa.

Quando questionada se já se sentia segura para voltar a frequentar as igrejas, ela recorre à fé: “Ah, Maria passa na frente né? Hoje tem uma equipe de apoio para receber a gente, medir temperatura e reservar as vagas”. Luciana ainda ressalta que se estão seguindo os protocolos de saúde, ela já fica confortável para voltar.

Para ela, a pandemia foi uma forma de incluir o restante da família em suas orações. “Acredito que teve uma reaproximação familiar também, eu sempre chamo meu marido para rezar novenas comigo e ele tem participado muito, antes era mais difícil dele frequentar a igreja”, reitera.

Catolicismo virtual

A migração dos processos e atividades da Igreja para os meios digitais foi realizada de forma gradativa, como conta Ricardo Costa Alvarenga, 28, mestre em Comunicação Social e assessor da Pastoral da Comunicação na Igreja Católica: “A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) identificou os sinais e alertou as Igrejas de cada região e cidade. A principal medida seria de fato a não realização de atividades presenciais. Neste momento, iniciaram-se as celebrações virtuais e percebemos esse processo de migração do catolicismo, que é mais presencial para o catolicismo virtual”.

De acordo com Ricardo, não existem dados oficiais de que houve uma diminuição nos fundos das igrejas. No entanto, muitas pessoas perderam famílias e empregos, fatores que podem impactar diretamente nas arrecadações. “Além das questões financeiras, fico um pouco preocupado com a virtualização da religião. A maioria das pessoas não possui domínio das redes e nem acesso às tecnologias. Como que elas vão se manter na fé se não têm conhecimento sobre a técnica? Essa a principal questão problema”, finaliza.

As igrejas que não tinham Instagram, canal no Youtube ou redes sociais, começaram a se apropriar dessas ferramentas de uma maneira emergencial para conseguirem manter suas atividades, que se deram por dois motivos: pelo atendimento ao povo e a arrecadação dos fundos para manter as demais práticas religiosas. Diante disso, constatou-se uma mudança significativa no processo comunicacional e interativo, dentro e fora das igrejas, evidenciado pelo uso das mídias sociais.

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