Este estudo tem por objetivo analisar a cobertura feita pelo portal Gospel Mais da gestão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na presidência da Câmara dos Deputados de modo a compreender suas características jornalísticas e a produção de sentido sobre os eventos políticos noticiados. Foram utilizadas como propostas teórico-metodológicas Análise de Critérios de Noticiabilidade (WOLF, 2008), Análise de Conteúdo (BARDIN, 2011) e Análise de Enquadramento (GAMSON, 2011), com intenção de triangular os dados (GOMES et al., 2010). A presença de enquadramentos de ação coletiva foi investigada a partir da adaptação de três categorias propostas por Gamson (2011): identidade, ação e injustiça. A escolha do Gospel Mais se deu após realização de levantamento, apresentado neste trabalho, dos websites voltados ao público evangélico mais acessados atualmente no Brasil, fenômeno que ocorre em contexto de midiatização da religião (FAUSTO NETO, 2001; GOMES, 2004, BORELLI, 2010; MARTINO, 2012). Os resultados mostram que o noticiário do Gospel Mais apresentou valores-notícia dos cinco conjuntos de critérios sugeridos por Wolf (2008): substantivos, e relativos ao produto, ao meio, ao público e à concorrência. Apresentaram forte grau de noticiabilidade eventos que envolveram pastores, parlamentares evangélicos e celebridades gospel, cujas falas frequentemente disseminaram valores fundamentalistas sobre diversidade sexual e de gênero e discursos antifeministas, anticomunistas e antipetistas. Os enquadramentos de ação coletiva, por sua vez, ocorreram de maneira diferente a depender da categoria temática. A injustiça foi o enquadramento mais presente, funcionando como chave para integrar os demais componentes de ação coletiva. Apesar de aparecer como principal responsável por atos de injustiça, Eduardo Cunha é defendido por lideranças evangélicas e celebridades gospel como sendo vítima de armação. O PT e o governo Dilma também aparecem como vilões, sendo raramente defendidos nas matérias. Em conteúdos da categoria temática “direitos e garantias”, a injustiça apareceu associada à noção de identidade, que se ancorou na definição de “nós evangélicos” (conservadores e pessoas de princípios) em oposição a um “eles”, LGBT, feministas, movimentos sociais, partidos de esquerda e a mídia. A mobilização social desses grupos foi desencorajada ou desqualificada no noticiário. O enquadramento de ação, no entanto, foi estimulado em protestos a favor do impeachment da presidenta Dilma Rousseff e aparece de maneira ambivalente na temática “denúncias contra Cunha”.
Leia a dissertação <<<Valores-notícia e enquadramentos de ação coletiva no maior portal evangélico do Brasil: o caso Eduardo Cunha no Gospel Mais>>> de Ana Paula Bezerra Leitão ou baixe diretamente no repositório institucional da Universidade de Brasília.
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