O GT 26 – Religiões, mediações e imagens recebe até hoje, dia 2 de dezembro, resumos para XX Jornadas sobre Alternativas Religiosas na América Latina. O evento será realizado de 30/06 a 03/07/2020, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). O GT tem como coordenadores os professores Edilson Sandro Pereira (UFRJ), Priscila Vieira Souza (UFRJ) e Joaquín Algranti (CONICET-UBA).
Veja abaixo a ementa do GP.
Ementa
O campo de estudos da religião se apresenta como um cenário de pesquisa profícuo para observar o contínuo exercício da criatividade humana, das formas de compreensão da vida coletiva, bem como arena de expressão de dramas e deconflitos sociais diversos. Neste Grupo de Trabalho, propomos atentar às mediações e imagens que tanto produzem a religião, quando possibilitam complexificar essa noção, expandindo a toponíma religiosa – e seus efeitos – a outros campos da vida social.
Na história das ciências sociais, a noção de mediação aparece como uma ideia chave para a compreensão da religião. Segundo o clássico estudo de Marcel Mauss e Henri Hubert [1899], o sacrifício operaria como um mediador exemplar entre os polos do sagrado e do profano, permitindo a sua comunicação e mútua transformação. Em momento mais recente, sobretudo no contexto do século XXI, observamos a consolidação da uma área de estudos em torno das conexões entre “religião e mídia”, na qual podem ser reunidos autores heterogêneos entre si, tais como Belting, 2006; Hjarvard, 2016; Hoover, 2014; Martino, 2012; Meyer, 2019; Stolow, 2014; etc. Um dos aspectos que se destacam dessa nova forma de analisar a religião é a atenção dedicada à dimensão sensorial e estética das relações mantidas entre religião, imagem e mídia, observando-se que o religioso se conecta a operações materiais e simbólicas diversas – podendo, inclusive, transformar agentes, artefatos e símbolos não-religiosos em religiosos e vice-versa.
Para existir, as religiões mobilizam em seus rituais inúmeras mediações (humanas e não-humanas) e, complementarmente, são várias as mídias que tornam conteúdos religiosos tangíveis, integrando-os ao mundo sensível e da vida social. Assim, compreendemos que as formas de expressão cultural religiosa, seus usos sociais e controvérsias, devem ser compreendidos contextualmente – como sugere Latour em sua análise sobre o iconoclash, situação na qual uma mesma imagem pode gerar efeitos diversos ou contraditórios, iconoclastia e iconofilia simultaneamente. A proposta deste GT é reunir pesquisadorxs interessadxs em analisar a polissemia e porosidade do religioso na experiência sociocultural latino-americana, destacando suas expressões visuais e mediações. Pesquisas sobre a pregnância das imagens, em seus múltiplos formatos e modos de ação nas práticas religiosas ou análogas – como as relacionadas ao domínio da política, das artes, das festas, das mídias etc. – são igualmente bem vindas.
Ao descrever o que chama de “operação iconoclasta”, Morgan (2005) nos lembra que no léxico da cultura visual religiosa, medo e devoção são complementares. Assim, talvez, ninguém acredite tanto no poder da imagem quanto o executor da iconoclastia. A motivação por trás das respostas destrutivas às imagens é tipicamente encontrada no medo do que pode acontecer se as imagens forem deixadas por elas mesmas. Frequentemente, também, medo do que elas representam. Assim, o ato violento contra a imagem não significa a sua morte ou a destruição do que ela representa; a iconoclastia compõe a biografia dessa imagem/deidade, como parte de sua própria história e não como seu fim (Morgan, 2005). A operação iconoclasta é sempre socialmente intersticial. Ela não se restringe à esfera religiosa e revela processos de dominação – e suas resistências (Morgan, 2005; Mills, 1999). Da perspectiva do operador da ação ou fomentador da retórica iconoclasta, trata-se de uma passagem: aniquilando o impuro, promove-se e exalta-se a pureza. Do ponto de vista sociocultural, é comum a iconoclastia instalar-se entre o religioso e outro domínio, incluindo o político, o econômico, a guerra, a histórica luta e produção de identidades envolvendo diferentes etnias etc.
Referências Bibliográficas:
BELTING, Hans. “Imagem, Mídia e Corpo: Uma nova abordagem à Iconologia”. Revista de Comunicação, Cultura e Teoria da Mídia. São Paulo, julho/2006 n. 08. pp.32-60.
HJARVARD, Stig. Mediatization and the chaging authority of religion. Media, Culture and Society, 38, 2016. pp 8-17.
HOOVER, Stewart. Mídia e Religião: premissas e implicações para os campos acadêmico e midiático. Comunicação e Sociedade, 35, N2, 2014. pp 41-68. https://www.cisc.org.br/portal/jdownloads/Ghrebh/Ghrebh-%208/04_belting.pdf
LATOUR, Bruno. “O que é iconoclash? Ou, há um mundo além das guerras de imagem?”. Horizontes Antropológicos, 29, 2008. pp. 111-150. http://www.scielo.br/pdf/ha/v14n29/a06v14n29.pdf
MARTINO, Luis Mauro Sá. Mediação e Midiatização da religião em suas articulações teóricas e práticas. In MATTOS et all (ORG), Mediação e midiatização [online]. Salvador: EDUFBA, 2012. pp 219-244. https://static.scielo.org/scielobooks/k64dr/pdf/mattos-9788523212056.pdf
MILSS, Kenneth. Idolatry and the body of Christ: corpus Christi in Colonial Cuzco, Peru. Duham: Duke University Press, 1999.
MEYER, Birgit. “De comunidades imaginadas a formações estéticas: mediações religiosas, formas sensoriais e estilos de vínculo”. In: Como as coisas importam: Uma abordagem material da religião. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2019. pp. 43-80.
MORGAN, David. The sacred gaze. California: Univsersity of California Press, 2005.
STOLOW, Jeremy. “Religião e Mídia: notas sobre pesquisas e direções futuras para um estudo”. Religião & Sociedade, 34(2): 146-160, 2014 http://www.scielo.br/pdf/rs/v34n2/0100-8587-rs-34-02-0146.pdf
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