Jorge Claudio Ribeiro
RESUMO
Este artigo analisa a ocorrência cotidiana, nas redações de jornal, de inúmeras manifestações “laicas” da religiosidade (na concepção simmeliana, é uma capacidade humana que engloba a totalidade da existência e lhe confere sentido). O autor trabalhou, durante cinco anos, nas redações dos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo. das observações, anotadas num diário de campo, entrevistas e levantamento de dados, resultou uma “repor-tese” – uma reportagem que virou doutorado. Não há no jornalismo um componente religioso formal. Mas, por predisposição pessoal, ethos da profissão ou tradição, a religiosidade do jornalista secreta um sentido de promoção da verdade e da justiça. A empresa jornalística exerce uma peculiar onipotência ao selecionar acontecimentos que considera dignos de ser publicados. A ancoragem da imprensa no tempo lhe confere certa eternidade, pois a sucessão ininterrupta de edições configura um retorno ao eterno presente. Conclui-se que a característica “religiosa” do jornalismo se manifesta sob forma de rituais de lugar e tempo, de pessoas e falas e também como mística da vocação, da missão e do sofrimento. Essas condições também podem ser usadas como um disfarce “heróico” na exploração do trabalhador.