Uma análise comunicacional da explosão gospel e sua expressão entre os diferentes segmentos do cenário religioso evangélico contemporâneo no Brasil é o objeto deste trabalho. Inicialmente um movimento musical, o gospel explodiu na última década do século XX entre os evangélicos e deu forma a um modo de vida configurado pela tríade música-consumo e entretenimento. Esse modo de vida se expressa, especialmente, em novas formas de culto religioso e na relativização da ética protestante restritiva de costumes. A referida tríade é caracterizada pelas transformações advindas do reprocessamento das culturas das mídias, urbana e de mercado entre os evangélicos e da busca de superação da crise entre protestantismo e sociedade que tem marcado a história deste segmento no Brasil. Entretanto, a análise embasada nos estudos culturais e nas ciências da religião revelou que esses traços de modernidade da cultura gospel estão entrecruzados com a tradição, com a conservação de traços da identidade protestante no Brasil como o dualismo igreja vs. mundo, o individualismo, o intimismo religioso, o sectarismo, a rejeição da diversidade de manifestações culturais e religiosas, o antiecumenismo e o antiintelectualismo. O estudo sobre este encontro do antigo com o novo, do tradicional com o moderno remete à compreensão da cultura gospel como uma cultura híbrida. Uma estratégia de adaptação à modernidade e suas expressões hegemônicas – seja o pentecostalismo, no campo religioso, ou o capitalismo globalizado no campo sócio-histórico -com a garantia de preservação da expressão cultural religiosa tradicionalista, já conhecida e aprovada no “coração das igrejas”. O hibridismo é aqui compreendido como criação estéril, uma modernidade de superfície passível de tensões: o “vinho novo em odres velhos”.
Leia a tese <<<Vinho novo em odres velhos. Um olhar comunicacional sobre a explosão gospel no cenário religioso evangélico no Brasil>>> de Magali do Nascimento Cunha no nosso blog ou na Biblioteca da Usp.
Confira outros textos de <<< Magali do Nascimento Cunha >>> publicados no Mídia, Religião e Sociedade.